Rafael Ferreruela formou-se em Medicina e Cirurgia em 1974 e em Oftalmologia em 1979, além de Doutor em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina de Lleida Cum laude em 1993, uma preparação profissional que lhe permitiu desempenhar uma tarefa que ele é apaixonado por Um homem modesto que adora contar sua experiência pessoal, não para demonstrar orgulho, mas para exteriorizar o sentimento de operar e de que esta ação pode melhorar a qualidade de vida das pessoas.
O trabalho solidário também esteve muito presente na vida de Rafael Ferreruela porque ele valoriza o serviço. Expedições que fez ao longo dos anos para operar cataratas em centenas de pessoas na Etiópia ou no Senegal, tarefa que diz ter feito mais por si mesmo do que pelos outros.
Olhando-o nos olhos, num espaço da Clínica Ferreruela que evoluiu para Instituto de Oftalmologia de Lleida (ILO), tentaram desvendar o emaranhado da trajetória deste Terolenc estabelecido em Lleida há muitos anos.
P- Doutor, qual foi o ponto de partida de Rafael Ferreruela?
R – Iniciamos nossa trajetória profissional com minha esposa Andrea Sanfeliu em um projeto que queríamos chamar de Clínica Oftalmológica para que as pessoas entendessem melhor o conceito de oftalmologia. Uma consulta para avaliar a visão que os olhos têm, para saber o que tinha que ser feito para ver melhor e, caso o olho não visse o suficiente, tínhamos que saber porquê. Mas a Clínica acabou se chamando Ferreruela e à medida que foi evoluindo e crescendo tornou-se o Instituto de Oftalmologia de Lleida (OIT).
P- O Doutor Ferreruela foi um pioneiro da oftalmologia de Lleida?
R – Fui o primeiro oftalmologista a colocar lentes intraoculares em operações de catarata em Lleida, técnica que muitos questionaram. Divulgamos o projeto em todo o Estado com uma dezena de profissionais com quem fundamos a Sociedade de Cirurgia Ocular Implanto-Refrativa (Secoir). Modéstia à parte, quero levar o crédito pelo facto de Lleida ter sido uma das primeiras demarcações espanholas onde começaram a ser colocadas lentes intraoculares em cirurgias de catarata.
Na área da cirurgia refrativa também fui pioneiro, pois no início das operações com aparelhos a laser nos juntamos a um coletivo de oftalmologistas para adquirir um e poder realizar intervenções articulares de miopia. Foi uma forma de podermos oferecer este serviço aos nossos pacientes até que nós próprios conseguimos adquirir um.
P- O aparecimento do laser e de outras tecnologias avançou a oftalmologia e consequentemente a vida da visão?
R – É claro que a tecnologia nos ajudou muito a melhorar as intervenções e em grande medida em patologias muito complexas e que antes eram muito difíceis de intervir. Também devemos ter em mente que cada vez mais é o mesmo paciente que nos solicita determinadas intervenções. Por outro lado, algumas das patologias que eram muito comuns há anos desapareceram.
P- Em que momento Rafael Ferreruela considera que deve responder ao ativismo social ou ao seu ativismo social?
A – Olha, como te contei, fui pioneiro na cirurgia de catarata, retirando o cristalino e substituindo por um cristalino – fui treinado em tirar catarata e nada mais – considerei que sabendo disso deveria compartilhar, transmitir, e foi aqui que tudo começou. Mas, devo confessar que também houve um pouco de egoísmo, porque sou apaixonado por operar, gosto tanto que tive que continuar gostando de cirurgia oftalmológica. Você percebe que você desempenha um papel importante e principalmente em outros países você se sente um “milagre” e na oftalmologia acho que você pode usar essa palavra, porque um paciente não consegue enxergar nada e um dia depois ele recupera a visão, isso é espetacular.
P – Por que você está desembarcando na Etiópia?
R – Um amigo oftalmologista perguntou-me se poderíamos ir a Mekele, uma cidade na região etíope de Tigray onde havia um grande número de casos de cataratas e outras doenças de visão, mas eles não tinham meios nem pessoal para poder atender às necessidades Na construção de uma congregação religiosa, adquiriram material para viabilizar uma pequena sala de cirurgia e começar a funcionar. Iniciamos as intervenções e aos poucos treinamos técnicos de saúde locais e fornecemos material como parte do Projeto Visão. Acho que acabamos substituindo cerca de 1.500 lentes. Aos poucos, a iniciativa contou com a cumplicidade da universidade e de outras entidades que possibilitaram a construção de um hospital oftalmológico.
P – Eu da Etiópia ao Senegal!
R – Chega uma altura em que os etíopes vão sozinhos e, por outro lado, por volta de 2007 pediram-nos que uma ONG de Lleida pudesse ir para o Senegal na região de Koldar, onde, aliás, há muita gente de Lleida e lá é uma grande necessidade de cuidados oftalmológicos.
No Senegal foi diferente, sempre tivemos o apoio das autoridades de saúde e agimos sob o seu julgamento e como apoio no seu sistema de saúde. Eles implantaram uma série de consultas e salas de cirurgia em diferentes partes do país. Foi um projeto de cinco anos com o qual a intenção não era fazer tudo nós mesmos, mas que eles fizessem a partir do campo.
Tenho uma anedota muito marcante da qual sempre me lembro. Passei uma semana no Senegal dedicada exclusivamente à formação de um técnico, um nano, aliás, bastante desajeitado, ele fez a primeira cirurgia em algumas horas, ao meu lado. Quando chegou o sábado, o nano já havia feito dez em uma manhã. Naquela época aprendi que poderia fazer cem intervenções por dia, um número significativo! Mas o novo técnico que fica no país e vai operar todas as semanas, mesmo que faça dez ou quinze por mês, vai passar a vida inteira operando lá.
No Senegal foram implementadas bolsas de formação em homenagem ao Dr. Andrea Sanfeliu e nos primeiros anos as administrações designavam quem deveria ser a pessoa de acordo com os parâmetros que consideravam e, na maioria dos casos, eram pessoas de uma determinada idade. Desde a fundação insistiu-se que os candidatos fossem tão jovens quanto possível, pela simples razão de que com uma preparação mais prematura há mais tempo para exercê-la.
No Senegal, 8 em cada 10 casos de cegueira são evitáveis ou curáveis, e é neste contexto que em 1999 o Ministério da Saúde e Prevenção do Senegal lançou o seu próprio Programa Nacional de Combate à Cegueira, com o qual a fundação colabora, para reduzir a prevalência da cegueira evitável ou curável em escala nacional.
Sobre Rafael Ferraruela
Rafael Ferreruela foi galardoado com o prémio Cidade Internacional de Lleida 2012, instituído pela Câmara Municipal de Lleida com o objetivo de promover a projeção internacional de Lleida e da sua área de influência. Assim, este prémio reconhece pública e institucionalmente o percurso de pessoas, instituições, empresas ou entidades da sociedade civil que se tenham destacado pelo seu contributo para o conhecimento ou para o impacto internacional da cidade e do seu ambiente geográfico através do trabalho no âmbito académico, científico, económico. , campos sociais ou culturais.
A Acção Social da Caixa Penedès atribuiu também em 2011 o prémio Josep Parera a Rafael Ferreruela, um prémio que reconhece o percurso de pessoas e organizações que se destacam pela sua dedicação ao desenvolvimento comunitário nas dimensões social, humanitária ou solidária.