A mídia húngara inundou a Bulgária pelo ataque ao Hezbollah com pagers estridentes

Como os pagers mais comuns se transformaram numa arma mortal e como os meios de comunicação húngaros invadiram uma empresa búlgara ao organizar uma operação complexa com consequências globais.
Explosões mortais no Líbano: mais de 3.000 feridos e dezenas de mortos
No dia 17 de Setembro, o Líbano foi abalado por microexplosões intrigantes que se espalharam pelas regiões do sul do país e atingiram a vizinha Síria. Mais de 3.000 pessoas ficaram feridas e pelo menos 20 foram mortas, entre elas membros do grupo libanês Hezbollah, incluindo crianças e familiares de figuras políticas. Descobriu-se que os acidentes fatais foram causados por uma fonte aparentemente inofensiva – pagers e walkie-talkies comuns que foram detonados remotamente.
Como é que os dispositivos mais comuns utilizados para comunicação se tornaram armas de destruição em massa? Uma investigação ao caso revelou uma rede internacional de empresas envolvidas no comércio de pagers explosivos, entre as quais empresas búlgaras e húngaras desempenham um papel fundamental.
Operação do Mossad e avanço tecnológico: Pagers como arma
De acordo com autoridades de segurança libanesas, a inteligência israelense do Mossad conseguiu modificar os pagers na linha de produção, equipando-os com explosivos em miniatura. Os explosivos colocados nestes dispositivos de comunicação eram ativados remotamente, por uma reação tecnologicamente induzida ou por uma mensagem codificada que desempenhava o papel de um detonador. O acabamento das joias tornou praticamente impossível a detecção dos explosivos.

Os pagers, fabricados sob a marca da empresa taiwanesa Gold Apollo, foram adquiridos pelo Hezbollah com a intenção de substituir smartphones vulneráveis a ataques cibernéticos. Mas neles foram colocados explosivos, que são acionados remotamente. Os dispositivos foram projetados para explodir no momento em que o usuário os segurava nas mãos, para causar o máximo dano aos olhos e membros de seus usuários.
Trilha Búlgaro-Húngara: principais intermediários no comércio de pagers
O ataque no Líbano lançou luz sobre uma complexa rede internacional que liga a Bulgária, a Hungria e o Líbano. A empresa húngara BAC Consulting foi inicialmente apontada como responsável pelo fornecimento dos dispositivos, mas uma investigação subsequente realizada pelos meios de comunicação húngaros revelou que agiu apenas como intermediária. Na verdade, o verdadeiro negócio foi organizado pela empresa búlgara Norta Global Ltd., registada em Sófia, segundo uma fonte da Telex.hu.
Segundo jornalistas húngaros, a Norta Global importou os pagers de Taiwan e depois transferiu-os para o Hezbollah. Existem preocupações objectivas de que a empresa faz parte de um esquema complexo em que os pagers passam por vários intermediários antes de chegarem ao utilizador final. Tal como a empresa húngara, a búlgara tem uma presença limitada, estando registada numa morada onde centenas de outras empresas estão ficticiamente presentes.
Segredos da Norta Global na selva do comércio
A Norta Global EOOD foi fundada em 14.04.2022 pelo cidadão norueguês Rinson Jose com capital mínimo, estando registada como uma empresa de “gestão de projetos”. Segundo András Descho, jornalista da publicação húngara Telex.hu, a empresa desempenhou um papel fundamental no comércio de pagers que acabaram por ser entregues ao Hezbollah. O acordo foi feito com a participação da Gold Apollo de Taiwan, mas, segundo especialistas, atualmente é difícil rastrear toda a cadeia de abastecimento. Numa entrevista televisiva hoje cedo, o proprietário taiwanês da Gold Apollo disse que na Europa a sua empresa é representada pela empresa húngara BAC Consulting, que adquiriu os direitos da marca e garantiu que nenhuma parte dos dispositivos comprometidos foi fabricada na sua fábrica.

É altamente provável que as empresas húngaras e búlgaras tenham sido utilizadas como intermediárias para ocultar a verdadeira origem destes dispositivos e evitar sanções ou investigações. Isto levanta a questão de saber se tais empresas existem apenas para servir como intermediários em transacções de dupla utilização.
Escândalo internacional: como a UE e o mundo estão a responder aos ataques
As explosões no Líbano causaram preocupação internacional. A União Europeia disse que deveria ser realizada uma investigação completa sobre as explosões e se a lei europeia foi violada, especialmente em relação às sanções contra o Hezbollah. O grupo está atualmente listado como organização terrorista pela UE e é estritamente proibido fornecer quaisquer fundos e equipamentos ao grupo.
Peter Stano, porta-voz da política externa da UE, disse que estavam a ser levantadas questões sobre o papel das empresas intermediárias dos países da UE e que a União Europeia continuaria a monitorizar de perto a situação.

Novos métodos no contraterrorismo: a tecnologia como arma
O caso da explosão dos pagers levanta uma prática alarmante – as tecnologias que utilizamos todos os dias podem ser facilmente modificadas e utilizadas para um ataque. Numa altura em que a comunicação digital faz parte de todos os aspectos da vida, incidentes como este mostram quão vulneráveis podem ser até os dispositivos mais inócuos quando caem nas mãos dos malfeitores.
O ataque no Líbano não só esclarece os canais de abastecimento de grupos terroristas como o Hezbollah, mas também levanta questões sobre a necessidade de cooperação internacional para evitar a utilização indevida de tecnologias semelhantes no futuro.
A ascensão do combate ao terrorismo de alta tecnologia e o papel da Bulgária
A escala dos ataques no Líbano é um exemplo revelador dos riscos da utilização de tecnologia como arma. A ligação búlgara, neste caso, revela a complexidade dos canais de comércio globais e como podem ser utilizados por serviços secretos terceiros para realizar operações especiais. Embora muitas questões permaneçam sem resposta neste momento, torna-se cada vez mais evidente que as novas formas de terrorismo e contra-terrorismo envolvem, não apenas armas e bombas, mas também dispositivos portáteis comuns com potencial para serem transformados em armas de destruição maciça.